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4/28/2004

Ruanda: crimes esquecidos


"But now it's kind of waking up with a sense of failure as a human being. And I can't really describe the dreams themselves, except that it's just crowds of people, crowds of people and, then, waking up and just feeling a sense of failure. It sounds bizarre, but that's what Rwanda has left me with as a human being". Fergal Keane

No início dos anos 90 o mundo começou a viver mais uma década de conflitos bélicos. O mais mediático foi a Guerra do Golfo, mediatismo este conseguido pela bem oleada máquina de propaganda dos Estados Unidos. Nos anos seguintes várias foram as vozes que alertaram para as crescentes tensões no continente africano, mas muitos foram aqueles que calaram as vozes das víctimas de genocídios de populações inteiras.

O caso que aqui se trata decorreu há precisamente dez anos, num país chamado Ruanda, um território que enfrentou um dos maiores horrores do século XX provocados pelo Homem. A seis de Abril de 1994, o presidente do Ruanda, Juvenal Habyarimana, é assassinado quando viajava de avião para a capital do país, Kigali. Horas depois o genocídio começou, levando à destruição de quase um milhão de pessoas.

Os motivos desta matança são raciais. Desde os anos 50 que a maioria Hutu leva a cabo acções de perseguição e morte a membros da minoria Tutsi (a elite que deteve, séculos atrás, o domínio lactifundiário do território e o governo do mesmo). Em 1994, com o apoio da Rádio Mille Colines, que apelava à população a pegarem nas armas e matarem os seus vizinhos tutsi, que mereciam morrer: "kill the Tutsi cockroaches", a maioria étnica Hutu leva a cabo uma acção de morte sobre membros da minoria Tutsi e de Hutus moderados.

Meses antes deste evento macabro, os chefes das milícias Hutu fazem uma petição às Nações Unidas para a aquisição de um grande e considerável número de utensílios agricolas - nomeadamente machados e outros utensílios de corte -, despacho este que foi assinado, segundo Fergal Keane, pelo próprio Kofi Anan.

Quando se iniciam os massacres, as Nações Unidas mandam retirar as suas forças no local, a UNAMIR (Missão de Assistência da Nações Unidas para o Ruanda), uma força com cerca de 2.000 militares, alegando razões de segurança. Para proteger os estrangeiros no país, ficaram 250 militares no terreno.

Durante quatro meses o genocídio victimou mais de 800.000 ruandeses, um massacre que indiscriminava mulheres, crianças, idoso, etc. Só passados quatro meses as Nações Unidas decidiram enviar mais de 5.000 militares para o território, para proteger os civis e fornecer segurança para a acção da Cruz Vermelha Internacional. Contudo, os estados-membros – supostamente os guardiões da paz e da manutenção da mesma – recusaram-se a pôr em risco as suas tropas "algures em África".

Passado este período, os prepertores dos massacres fugiram do país quando o denominado "Rwandan Patriotic Front", um grupo armado da etnia Tutsi, invadiu a capital e pôs fim aos massacres, mas não à guerra. Nos campos de refugiados as condições são mantidas abaixo da de um ser humano, onde milhares de Tutsi se escondiam do seu "predador" habitual, os Hutu que agora refugiados também neste campos, tomavam o controlo da destribuição de alimentos e de abrigo.

A situação não melhorou durante muitos anos, com milhares de orfãos e mutilados por todo país e pelos países vizinhos, onde encontraram abrigo. Entretanto, os criminoso Hutu são perseguidos e assassinados pelos rebeldes Tutsi, mas muitos são feitos prisioneiros e esperam julgamento. Mas uma decisão do actual presidente do Runada, Paul Kagame – antigo líder do "exército" Tutsi –, prevê o perdão e liberdade para os que se mostram arrepenfdidos dos actos que cometeram.

Neste crime quase silenciado pelo Ocidente uma voz se levantou e deu a conhecer ao mundo o que se passou neste país flagelado pelos confrontos étnicos. Fergal keane, correspondente da BBC para o sul de Áfica, deu a conhecer esta história no seu livro "Season of Blood", onde relata, num tom jornalístico, as atrocidades cometidas neste país africano. E como o próprio relata "ainda tenho pessadelos com tudo isto… dez anos depois. Já tinha visto muitos conflitos, muitas mortos, mas nunca tinha assistido a uma atrocidade tão grande… à personificação do mal".

Enquanto milhares e milhares de pessoas inocentes morriam, os media simplesmente preocuparam-se em relatar em directo a greve de transportes francesa que estava a paralisar a Europa, decidindo ignorar os actos atrozes que decorriam no continente africano.

4/27/2004

Serra Leoa: o julgamento de uma guerra civil

Em 1991 teve início na Serra Leoa uma guerra civil que resultou em cinquenta mil mortos e milhares de mutilados. Em Março de 2004 foi inaugurado em Freetown, a capital do país, um tribunal especial para julgar as atrocidades cometidas ao longo dos onze anos de um conflito esquecido pelos títulos dos jornais.



Ainda antes de entrar em funções, o Tribunal Especial para a Serra Leoa era já marcado pela controvérsia. Das treze pessoas inicialmente citadas, apenas nove vão a julgamento, o que coloca a questão se não terá o tribunal falhado a tarefa de julgar os principais responsáveis pelos episódios mais brutais do conflito.

O líder das forças rebeldes da Frente Revolucionária Unida (FRU) Foday Sankoh e o seu comandante Sam Bockarie estão mortos. Paul Keroma, que em 1997 depôs o presidente eleito Ahmad Tejan Kabbah e mais tarde formou uma aliança com os rebeldes FRU, é dado como desaparecido. Charles Taylor, acusado de armar e treinar a FRU, está exilado na Nigéria, que recusa extraditá-lo.

Numa decisão histórica, o Tribunal declarou como “sem efeito” perante a lei internacional a amnistia acordada em Lomé em Julho de 1999. Segundo este acordo os rebeldes receberiam postos de governação e não poderiam ser responsabilizados por crimes de guerra.

Até Janeiro de 2002, data em que foi oficialmente declarado o fim da guerra, a Serra Leoa foi um pólo de total instabilidade. Lutas sangrentas, intercaladas com sucessivos golpes militares, deixaram para trás um país devastado.

Ahmad Tejan Kabbah foi eleito presidente em Julho de 2002, por uma larga maioria. Ele que em 1997 recebeu da empresa britânica Sandline “apoio logístico”, incluindo metralhadoras, apesar das sanções impostas à Serra Leoa pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que incluíam o bloqueio do fornecimento de armas e petróleo.

4/20/2004

Prisões a coberto da Guerra do Iraque

Hector Palacios

19 de Março de 2003: Enquanto a atenção da maioria dos orgãos de comunicação social se centrava esmagadoramente, a nível internacional, para o início da denominada "Guerra do Iraque", o Governo de Cuba aproveitava para prender elementos oposicionistas ao regime.

Os 75 dissidentes, entre jornalistas, políticos e activistas dos direitos humanos, foram acusados de participar numa "conspiração" envolvendo o chefe da missão diplomática americana em Havana, James Cason. Um ano depois, os envolvidos continuam detidos sob condições consideradas deploráveis.

Desde a sua chegada à capital cubana, há seis meses, James Cason tinha feito duras críticas ao sistema unipartidário cubano e convidou dissidentes para diversas reuniões. Até esta altura, as organizações da oposição eram toleradas.

18 dias depois, a 7 de Abril, um tribunal de Cuba condenou a 25 anos de prisão o líder da oposição no país, Héctor Palacios, por "traição e subversão".

Apesar de os condenados negarem as acusações, o governo cubano alega que os dissidentes tentavam acabar com a sociedade surgida após a revolução de 1959.

Palacios foi o principal condenado de uma série de julgamentos que decorreram em sigilo e por isso as condenações eram divulgadas pelos familiares.

Além de Palacios, o jornalista independente Raúl Rivero, que trabalhava para a agência de notícias Cuba Press, foi condenado a 20 anos de prisão. No total, as penas variaram entre os 15 e os 25 anos de prisão. Alguns dos condenados têm mais de 60 anos.

Héctor Palacios foi condenado a uma pena mais longa por ser líder do Projeto Varela, um grupo pró-democracia que reuniu 11 mil assinaturas há dois anos para a realização de um referendo sobre liberdade de expressão, amnistia a presos políticos e eleições livres. O referendo não aconteceu.

Quase um ano depois, um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre direitos humanos, divulgado no mês de Fevereiro, acusava Cuba de os deter sob condições físicas e mentais "alarmantes".

A enviada da ONU para assuntos de direitos humanos, a francesa Christine Chanet, disse que recebeu informações "preocupantes" sobre a forma como os prisioneiros estão sendo tratados.

Christine conta que os presos são transferidos frequentemente e mantidos em cadeias longe de suas famílias, o que dificulta as visitas. Além disso, os presos permanecem em celas solitárias ou junto com "delinquentes comuns" e sem direito a assistência médica.

Pelo meio dos acontecimentos da detenção dos dissidentes, o regime cubano executou três homens que tinham tomado uma balsa para fugir para os Estados Unidos.

Os sequestradores foram executados por "actos muito graves de terrorismo".

Um grupo de oito ou dez pessoas, armadas com uma pistola e algumas facas, tinha sequestrado uma balsa na baía de Havana, no dia 2 de Abril do ano passado, e seguiu em direcção à Flórida, levando 50 passageiros.

O combustível da balsa acabou no meio do caminho, em águas internacionais. Houve um impasse que durou cerca de dois dias, mas os sequestradores acabaram por ceder e decidiram voltar para reabastecer, quando foram presos. Ninguém tinha ficado ferido no incidente.


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O custo da guerra no Iraque para a Administração norte-americana
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